O tratamento para os transtornos alimentares envolve uma estratégia integrada e multiprofissional, com atuação conjunta entre psicólogos, psiquiatras, nutricionistas e profissionais de medicina clínica.
Você já leu ou ouviu nomes como anorexia nervosa e bulimia? Esses são os transtornos alimentares mais comuns, mas há outros que merecem cuidado igual. Eles são classificados como distúrbios psíquicos que impactam os hábitos da alimentação e são caracterizados pela associação a pensamentos e emoções angustiantes. Essas condições são tratadas no Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo vários hospitais da Rede Ebserh, e têm o 2 de junho como o Dia Mundial de Conscientização dos Transtornos Alimentares. Os especialistas alertam para a necessidade de tratamento rápido para evitar o agravamento do quadro.
“Os transtornos alimentares são condições psiquiátricas complexas, de origem multifatorial (biológicos, genéticos, psicológicos, socioculturais e familiares) e marcados por mudanças na alimentação ou no comportamento alimentar, que resultam em padrões e atitudes distorcidas e de preocupação excessiva com o peso e com o corpo repercutindo no estado nutricional, na saúde e nos desfechos clínicos dos pacientes”, explica a coordenadora do Ambulatório de Extensão em Transtornos Alimentares (Aeta) do Hospital das Clínicas da UFPE (HC-UFPE), Cybelle Rolim.
Até 5% da população mundial é afetada. Estes transtornos se desenvolvem com mais frequência na adolescência e no início da idade adulta. “A prevalência vem crescendo e, sem dúvida, há uma relação com a crescente exposição às redes sociais. Vivemos uma era em que o corpo idealizado é exibido constantemente, criando um ambiente de comparações sociais prejudiciais. Isso gera sentimentos frequentes de inadequação, baixa autoestima e insatisfação corporal, especialmente em adolescentes e adultos jovens, grupos mais vulneráveis ao desenvolvimento desses transtornos”, afirma o psicólogo do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS), Tiago Ayala.
O profissional acredita na importância de conscientizar sobre o impacto psicológico das mídias sociais, promovendo ações preventivas e educativas. “O objetivo é minimizar esses riscos e estimular uma relação mais saudável e consciente com o corpo e a alimentação”, comenta Ayala.
A prevenção é trabalhada no Aeta do HC-UFPE. “Como esses transtornos são condições psiquiátricas debilitantes, que resultam em danos importantes na saúde física e no funcionamento psicossocial, é importante estar atento à saúde física e emocional e buscar ajuda o quanto antes para implantar esse cuidado no início”, ressalta Cybelle Rolim.
Alguns pontos de atenção no comportamento da pessoa com TA são comer rápido demais, alimentar-se até ar mal, comer muito pouco, fazer as refeições sozinho por vergonha e induzir o vômito, entre outros. É importante também observar sintomas associados a esses comportamentos como náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, cólicas, febre e perda de apetite. Em alguns casos, podem ocorrer sintomas mais graves, como desidratação, perda de peso, queda da pressão arterial, obesidade e as doenças associadas a ela - como hipertensão, diabetes, alguns tipos de câncer e problemas cardiovasculares. Daí a importância dos diagnóstico e tratamento rápidos.
Experiência
Em Belo Horizonte, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) trata as pessoas com transtornos alimentares há 20 anos no Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia. Os pacientes são encaminhados pela Atenção Primária, Unidades Básicas de Saúde, Núcleo de Atenção à Saúde da Família (Nasf) e Serviços de Saúde Mental.
“Quando esse paciente chega, realizamos uma consulta de acolhimento com um profissional médico e um não médico. Depois, o caso é discutido com a equipe multiprofissional e é definido o projeto terapêutico individualizado de cada paciente”, relata a coordenadora do Projeto de Extensão Núcleo de Investigação e Pesquisa em Anorexia e Bulimia (NIAB) e professora do Departamento de Pediatria da UFMG, Ana Maria Costa Lopes.
Outros transtornos
Os dois mais conhecidos transtornos alimentares são a anorexia nervosa, caracterizada pela pessoa que não come com medo de engordar, apesar de, na maioria das vezes, estar abaixo do peso ideal para a idade e para a altura. Na bulimia, a pessoa come tudo o que deseja, mas depois provoca o vômito pela culpa ou remorso que sente, com medo de engordar.
Além deles, outros transtornos são o da compulsão alimentar periódica (ingestão de grandes quantidades de comida em curto período), o transtorno alimentar restritivo evitativo (Tare), a ruminação (regurgitação de alimentos consumidos), a ortorexia (preocupação excessiva e exagerada com a alimentação saudável), vigorexia (preocupação excessiva em desenvolver músculos) e a drunkorexia (a anorexia alcoólica), entre outros.
Tratamento
O tratamento para os transtornos alimentares envolve uma estratégia integrada e multiprofissional, com atuação conjunta entre psicólogos, psiquiatras, nutricionistas e profissionais de medicina clínica. “Do ponto de vista psicológico, trabalhamos com intervenções voltadas à reestruturação das crenças distorcidas sobre alimentação, peso corporal e autoimagem, promovendo a flexibilização cognitiva diante dos padrões rígidos que essas pessoas geralmente adotam. O foco é ajudar o paciente a reconhecer os pensamentos automáticos disfuncionais e desenvolver habilidades comportamentais que reduzam práticas compensatórias, como vômitos induzidos, uso de laxantes ou dietas altamente restritivas”, pontua o psicólogo Tiago Ayala.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, istra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.