Professora, militante e símbolo da luta por educação pública de qualidade, Deumeires disputa presidência da FETEMS em eleição histórica
Formada em Ciências e Matemática, com pós-graduação em Gestão Escolar, Deumeires - Foto: Arquivo Pessoal
Por trás de cada bandeira hasteada, há mãos que a sustentam com firmeza. Por trás de cada conquista coletiva, histórias de coragem individual. E em meio à maior eleição sindical da educação de Mato Grosso do Sul, desponta o nome de Deumeires Morais — mulher negra, professora, mãe, avó e militante — como um dos nomes mais representativos da luta por uma educação pública justa e digna.
No próximo dia 2 de junho, cerca de 25 mil trabalhadores da educação sindicalizados irão às urnas para escolher a nova presidência da FETEMS (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), a maior entidade sindical do estado, com 74 sindicatos filiados. Se eleita, Deumeires será a quarta mulher a ocupar o cargo mais alto da federação em seus 43 anos de história.
Formada em Ciências e Matemática, com pós-graduação em Gestão Escolar, Deumeires começou a lecionar em 1987, logo após se mudar para Dourados, cidade onde construiu sua vida e trajetória profissional. “O Mato Grosso do Sul me acolheu. Foi aqui que criei minha família, edifiquei minha carreira e escrevi minha história”, diz.
Ainda como professora contratada, protagonizou uma conquista inédita: foi a primeira docente temporária no estado a conseguir judicialmente o direito à licença-maternidade. “Quando me disseram que eu teria que pedir exoneração por estar grávida, não aceitei. Procurei o sindicato. E ele lutou por mim. Aprendi cedo que só a união nos protege. É essa força que carrego comigo.”
Hoje, aos 59 anos e vice-presidente da FETEMS, Deumeires representa muito mais do que uma candidatura — ela simboliza uma luta construída dentro das escolas, nos corredores, na fila do SUS, na ausência de merenda ou no salário atrasado.
Mais de 85% dos trabalhadores filiados à FETEMS são mulheres. Ainda assim, apenas três presidiram a entidade. Para Deumeires, a disputa atual vai além da questão de gênero: “É sobre representatividade real. É sobre uma mulher negra, do interior, que enfrentou os mesmos desafios que milhares de educadoras. Que conhece a realidade de quem está na linha de frente.”
Ao lado de Onivan Correa como vice, sua candidatura pela Chapa 1 foi construída por consenso entre lideranças sindicais de todo o estado. “Não é hora de aventuras. Há reconhecimento pelo trabalho que temos desenvolvido e pela seriedade com que tratamos cada pauta”, afirma.
Entre as principais bandeiras da chapa, estão:
-Novo concurso público para professores e istrativos;
-Redução da disparidade salarial entre efetivos e contratados;
-Cumprimento integral da Lei do Piso, com jornada e carreira garantidas;
-Revogação do desconto de 14% nos salários de aposentados;
-Combate à privatização da educação pública;
Aprovação de um piso nacional para os istrativos da educação.
“Precisamos garantir que pelo menos 90% dos profissionais da educação estejam no serviço público por concurso. Hoje esse número está aquém do ideal. A terceirização avança silenciosamente, e com ela, perdemos direitos e o compromisso do Estado com a educação”, alerta.
Durante seis mandatos consecutivos, Deumeires foi eleita diretora da Escola Estadual Clarice Bastos Rosa, onde ficou por duas décadas. “Sou daquelas lideranças que conhece o nome do porteiro e a luta da merendeira. Agora, aposentada, dedico minha vida à FETEMS. Porque a luta não se aposenta.”
Foi também protagonista nas discussões do novo Plano Nacional de Educação, defendendo pautas como concursos públicos, valorização da carreira e investimento real na rede pública.
Com apoio do atual presidente da FETEMS, Jaime Teixeira, e de nomes de peso como Heleno Araújo, presidente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Deumeires chega à reta final da campanha com confiança. “Os educadores sabem quem esteve com eles nos momentos mais difíceis. Sabem quem luta com os pés no chão da escola.”
Para ela, a eleição deste ano vai além da escolha de uma nova gestão: “É uma decisão simbólica. Estamos reafirmando que a escola pública é um território de resistência. E que mulheres negras podem, sim, liderar. Com coragem, afeto e compromisso.”
Questionada sobre o que os profissionais da educação podem esperar de sua gestão, Deumeires resume: “Garra, responsabilidade e a certeza de que a gente só conquista aquilo que se recusa a perder.”