Alerta foi feito por especialistas em reunião na Câmara na segunda-feira
08/04/2021 06h31 - Por Agência Câmara de Notícias
A pandemia do coronavírus acentuou a discriminação contra os idosos em aspectos como a ocupação dos leitos hospitalares.
O alerta foi feito por especialistas durante debate na Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara na segunda (5) sobre o chamado "ageísmo" ou "idadismo".
Eles apontaram preconceito também no mercado de trabalho, na preparação dos estudantes de Medicina para atender aos pacientes mais velhos e na falta de investimentos nas Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs), entre outros aspectos.
A discriminação, segundo eles, é institucional e estrutural. Cria estereótipos de fragilidade e improdutividade, sem levar em conta a heterogeneidade da parcela da população com idade mais avançada.
Os debatedores concordam que o Estatuto do Idoso é uma ferramenta importante contra o idadismo.
O Secretário Nacional de Promoção e Defesa dos direitos da Pessoa Idosa, Antonio Costa, salienta que desde 2016 a Organização Mundial da saúde (OMS) chama atenção para esses preconceitos.
Segundo ele, os dados do Disque 100 mostram um aumento da violência psicológica contra os idosos entre 2019 e 2020.
A discriminação foi agravada pela pandemia de Covid-19.
"Vemos falas para priorizar os jovens no tratamento em detrimento dos idosos. Isso é um tipo de ageísmo que tem se colocado aí na mídia com bastante frequência, como se os idosos fossem culpados dessa pandemia", disse.
A economista Ana Amelia Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), atesta a discriminação contra os mais velhos no mercado de trabalho, já que quem tem mais de 50 anos a por dificuldades de recolocação.
Na pandemia, ela também identificou ageísmo quando se fala em desemprego e redução da força de trabalho.
"Do último trimestre de 2019 ao último trimestre de 2020, 800 mil idosos foram demitidos, estão desocupados, mas continuam procurando trabalho; e 800 mil estão desocupados, mas não estão procurando trabalho."
Deputado que propôs a discussão, Denis Bezerra (PSB-CE) ressalta as falas dos debatedores sobre um outro aspecto: a infantilização do idoso, tratado como "vôzinho" e outras expressões semelhantes.
"Esses diminutivos que, muitas vezes, nós utilizamos de maneira geral, sem ter a consciência, nós estamos fazendo uma forma de idadismo, uma forma de preconceito principalmente pela questão etária", afirmou.
O geriatra Alexandre Kalache, diretor do Centro Internacional da Longevidade, acrescenta que a crise sanitária fez as desigualdades sociais serem evidenciadas.
Os idosos foram rotulados desde o início como grupo de risco, o que reforçou a discriminação.
"Assim como não basta não ser racista, há que ser antirracista; assim como não basta não ser sexista, há que ser antissexista, ativista, não tolerar nenhuma forma de discriminação; não basta não ser idadista, é preciso ser antiidadista, ativista e denunciar a cada momento que você se confronte com essa discriminação, gritar, gritar alto."
Durante a audiência pública, também foi discutida a instituição de um Dia Nacional de Combate ao Idadismo.
A sugestão dos participantes é que se adote a data de 15 de junho, que, desde 1999, é o Dia Internacional de conscientização sobre a violência contra os idosos.